quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
O Domingo continua Legal
Assim que foi confirmada a saída de Gugu Liberato para a Record, muito se falou a respeito do possível fim do "Domingo Legal". Gugu tinha a cara do programa, que por consequência, era a cara do SBT. O desfalque que a Record havia efetuado foi grande, afinal nem a emissora de Edir Macedo, assim como a própria Globo, tinham um apresentador que remetesse tanto à imagem do canal como Gugu remetia ao SBT. Por alguns dias nos bastidores do SBT restava a dúvida se o "Domingo Legal" chegaria ao fim e foi decidido que não. A decisão foi acertada.
O "Domingo Legal" de Gugu Liberato não apresentava mais os expressivos índices de audiência do início da década. As vitórias sobre o "Domingão do Faustão" e o "Fantástico" haviam ficado para trás e o motivo de comemoração se dava quando o programa vencia a Record com seu "Domingo Espetacular", principal concorrente. Claro que isso tem relação com a queda do SBT, que vem perdendo audiência ano a ano desde 2005. Entretanto a solidez da atração era tamanha que mesmo com a grade despencando e chegando aos níveis mais baixos de toda a história, o "Domingo Legal" seguia firme e forte na vice-liderança ou muito perto dela.
Pode-se dizer também que o antigo "Domingo Legal" havia deixado de chamar atenção do público por conta de seus fracos quadros. A maioria deles superficiais e todos os esforços eram concentrados no "Construindo um Sonho". O telespectador, que já estava deixando de acompanhar o SBT, teve mais um motivo para migrar para a concorrência.
Quando Gugu Liberato deixou o SBT e Celso Portiolli foi nomeado substituto aconteceu o que poucos esperavam. O "Domingo Legal" voltou a se parecer com o programa do passado. É notável a evolução do formato antigo com o novo. Música e gincanas foram reintroduzidas a atração e quadros assistencialistas - gênero que Gugu apostava no SBT e continua apostando na Record - foram drasticamente reduzidos. O formato antigo, que se sustentava pelo "Construindo um Sonho", agora é muito mais completo e divertido, fazendo com que a reforma da casa se tornasse apenas mais uma das atrações - e não A atração. O antigo "Domingo Legal" não faz falta.
Paralelo a isso aconteceu outro fato que poucos acreditavam também. Gugu Liberato estreou na Record com direito a festas em diversas praças do Brasil e um grande orçamento. De lá para cá já se foram três meses e ao contrário de Celso Portiolli, que rapidamente se adaptou ao novo programa, Gugu não se adaptou à nova casa. Seus quadros são repetidos e não apresenta nada de novo. Além disso, Gugu, contratado por R$ 3 milhões, não tem sequer 10% de seu potencial explorado na maioria das edições do "Programa do Gugu". O "Sonhar mais um Sonho" continua tendo mais tempo que uma partida de futebol e é exibido exaustivamente todos os domingos. Musicais não existem, gincanas também não. O que se via diferente da reforma das casas - e apartamentos, caminhões etc. - era um concurso de dança de gosto duvidoso e o "Nasci de Novo", talvez o menos entediante de todos mas que ainda assim está longe do aceitável.
O resultado das duas surpresas não poderia ser outro. O "Domingo Legal", exibido nos finais das manhãs de domingo, se alterna entre a vice e a liderança. A Globo, preocupada pois nunca havia sido ameaçada nessa faixa, já pensa em alterar o formato de "A Turma do Didi" após dez longos anos. A Record escalou filmes de horário nobre, que graças às suas poucas interrupções para intervalos comerciais, em alguns dias consegue brigar com o programa do SBT. O "Domingo Legal" fez com que um novo horário nobre fosse criado nos domingos.
Já pela noite o "Programa do Gugu", que era para ser o principal da Record, segue como coadjuvante. Com a chegada de "A Fazenda" perdeu quase metade de sua duração e fica espremido entre o "Domingo Espetacular" e o reality-show. O Ibope é fraco, na casa dos 12 pontos, facilmente ultrapassados pelo extinto "Repórter Record" e pelo próprio "Domingo Espetacular" se ocupasse parte do horário de Gugu Liberato.
Dessa análise, há duas conclusões. A primeira é que o "Domingo Legal" está pronto para disputar pela vice-liderança no horário nobre e duelar com seu antigo apresentador - e com grandes chances de sair vitorioso. No atual horário, por questões de share, o programa, que rende de 8 a 10 pontos de média, não passará de 12. Existe um limite e o "Domingo Legal" já chegou a ele, enquanto à noite pode chegar a 15, 16, com picos de 18.
Por outro lado, o "Programa do Gugu", se começar a brigar com o "Domingo Legal", certamente será derrotado. Mas calma. Gugu Liberato está no seu piso enquanto o "Domingo Legal" está em seu ápice. Gugu tem mais potencial que Celso Portiolli e a Record oferece uma estrutura, principalmente a respeito de termos financeiros, que dificilmente o SBT poderá acompanhar. Ou seja, se Gugu quiser, tem como dar a volta por cima e se aproximar dos 20 pontos de média que marcaram sua carreira nos primeiros anos dessa década.
Atualmente o "Programa do Gugu" briga com o "Programa Silvio Santos", que é mais engraçado e assistível. Silvio perde de Gugu na média todos os domingos, por isso não há pressa para que o formato do "Programa do Gugu" seja drasticamente alterado. Mas que se caso a concorrência aumentar, com certeza tudo mudará na Record. Prova disso está no "Tudo é Possível", que ocupou a vice-liderança por muitos anos na tarde de domingo com um programa sofrível, chato, lento e insosso. Com a ida de Eliana para o SBT e a chegada do "Domingo Legal" nas tardes, a atração, agora de Ana Hickmann, foi totalmente reformulada, tornou-se mais competitiva, mais forte e mais interessante.
Toda essa operação foi arquitetada para que, ao menos, se não reavesse a vice-liderança, que a média dos 8 pontos fosse mantida. Hoje em dia o programa rende entre 7 e 8 pontos e só alcança o segundo lugar uma vez a cada dois meses. Se esse formato dinâmico tivesse sido implantado na época de Eliana, em 2005 ou 2006, suas médias teriam sido, no mínimo, duas vezes maior. Se o formato de Eliana estivesse no ar ainda, o "Tudo é Possível" estaria dando 4 ou 5 pontos. Essa prática apenas confirma o benefício da concorrência para o telespectador, ainda mais em um dia que é conhecido pela ausência de boas atrações.